Como um policial, este é o único caso que eu não consigo explicar.



Como policial, eu já vi algumas merdas. Algumas ofensivas, outras hilárias, outras nojentas. Essas são as três categorias (apesar de não serem dignas de nota) nas quais eu agruparia as ligações. Porém, de vez em quando, recebemos ligações por coisas que só posso descrever como "inacreditáveis". Vou compartilhar o que consideraria a ligação mais intrigante e estranha da qual já participei.

Era o final do meu intervalo quando recebemos essa ligação sobre uma invasão a poucos quarteirões de onde eu estava. O bairro em que esse suposto arrombamento estava ocorrendo era povoado por várias casas em péssimo estado, embora muito grandes. Houve uma época em que esse bairro era da classe alta. Agora, infelizmente, as propriedades não valiam tanto, e muitas delas tinham sido abandonadas. As que ainda estavam ocupadas eram habitadas por idosos que moravam lá desde antes do bairro começar a dar merda. A ligação de emergência veio do telefone fixo de uma mulher idosa que eu chamarei de... Eu não sei... AH! ... Para continuar no espírito da invasão, eu chamarei ela de “Robin”.

Robin ligou para o atendente e informou que a porta da frente havia sido aberta e fechada, e que ela podia ouvir passos no andar de baixo. Seu marido havia falecido anos antes e agora ela morava sozinha, então obviamente isso não era uma coisa normal. Robin ficou no telefone com o atendente o tempo todo e confirmou quando cheguei lá que ela ainda estava ouvindo alguém andando no andar térreo. Ela informou que iria se esconder e depois desligou o telefone.

Eu tinha chegado ao mesmo tempo que outras duas viaturas na área. Uma delas tinha dois policiais, por isso enviamos um deles para os fundos da casa e mantivemos um estacionado na frente, enquanto eu e a última policial passávamos pela porta da frente. Com nossas armas em mãos, abrimos silenciosamente a porta da frente e entramos furtivamente. Enquanto eu fui pelo térreo para verificar os cômodos, a policial que passara pela frente comigo subiu imediatamente as escadas em frente à porta para verificar o segundo andar e fazer contato com a pessoa que ligou.

Eu me esgueirei pelo térreo para ouvir qualquer sinal de alguém, mas quando eu verifiquei o primeiro quarto eu precisava informar que este estava em ordem, então eu avisei em voz alta. Isso tornaria o elemento surpresa inexistente, mas é protocolo. Verifiquei a sala de estar e entrei na sala de jantar, ainda não tendo ouvido nada. Verifiquei a sala de jantar e fui para a cozinha, que também estava vazia. Olhei pela janela e gesticulei para o policial que estava na parte de trás, como se perguntasse "alguma coisa?", ao qual ele respondeu negativamente. Percebi então que não tinha ouvido a policial que subira as escadas sinalizar verbalmente que ela havia verificado quaisquer aposentos. Esperando o pior, eu a chamei e corri pela casa até as escadas.

Subi as escadas e quando cheguei ao corredor no topo, ela estava caminhando de volta em minha direção. Ao mesmo tempo, perguntamos um ao outro por que o outro não havia sinalizado verbalmente as verificações dos quartos, que ambos dissemos que tínhamos. Perguntei então se ela fez contato com a pessoa que ligou e ela disse que não. Confiantes de que os policiais posicionados na frente e atrás da casa pegariam qualquer um que tentasse escapar durante a nossa ausência no térreo, pedi para que me ajudasse a procurar no último andar novamente. Verificamos cada quarto um por um, primeiro o quarto inteiro e depois os armários de cada quarto. Chegamos ao fundo do corredor e não a encontramos, então nós demos a volta para olhar lá embaixo.

Mais uma vez, revistamos o térreo inteiro sem encontrar ninguém, mas quando chegamos à cozinha havia uma porta que eu jurei que não estava lá quando verifiquei o cômodo pela primeira vez. No entanto, eu abri, e isso levou ao porão, mas não era normal. Eu só podia ver três degraus antes da escuridão engolir todo o resto. Tive uma sensação estranha e esmagadora quando olhei para as trevas, era tão puramente escuro e vazio que senti medo puro. A policial com quem eu estava verificando a casa era novata e, no que acho que foi um esforço para impressionar um oficial veterano, resolveu verificar o porão.

Quando Robin disse que iria se esconder, mencionou que só ouvira uma porta abrir e fechar, a porta da frente. Ela disse que conhecia todos os sons que sua casa fazia depois de morar lá por mais de 60 anos, e que tinha certeza de que o suspeito ainda estava no primeiro andar. A novata acendeu a lanterna e a apontou escada abaixo, mas a escuridão começou a sugar a luz. Ela desceu as escadas rangentes até o breu e, pouco depois de chegar ao piso do porão, a ouvi gritar um distinto "tudo limpo". Eu esperava que ela voltasse imediatamente, mas houve cerca de cinco segundos em que eu não ouvi nada.

Então eu ouvi as escadas começarem a ranger na minha direção, e meio que preparei minha arma para o caso de quem saísse da escuridão não fosse a policial. Na verdade era ela, mas era como se eu estivesse olhando para uma pessoa completamente diferente. Toda a cor havia sumido de seu rosto e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Sua postura anteriormente confiante agora era rígida e preocupante. Perguntei a ela o que havia de errado e ela não respondeu, então perguntei se o porão estava realmente limpo e ela balançou a cabeça trêmula em confirmação. Depois de perguntar novamente o que estava errado, ela simplesmente saiu correndo pela frente da casa.

Com a certeza de que o suspeito não estava mais na casa e que Robin simplesmente tinha um esconderijo bom o suficiente por ter morado lá por tanto tempo, eu a chamei. Eu ouvi a voz dela gritar “Olá? Quem está aí?" ao qual respondi, identificando-me como policial. Quando subi, encontrei Robin no primeiro quarto à direita, na cama, como se ela estivesse lá o tempo todo. Não apenas isso, mas ela agiu como se não tivesse ideia do que estava acontecendo. Ela alegou que não havia chamado a polícia e que nem sequer tinha telefone.

No entanto, informei a ela que havíamos recebido uma ligação e que tínhamos verificado o térreo, o andar em que ela estava e o porão, e que ela não tinha com o que se preocupar. Sua resposta me deu um frio na minha espinha.

"Esta casa não tem porão.”

A essa altura eu já estava convencido de que a mulher provavelmente tinha algum tipo de demência e estava mais preocupado com o fato dela ainda morar sozinha. Depois de confirmar que a mulher estava segura e tudo mais, desci as escadas para sair. Para satisfazer minha própria curiosidade, caminhei pela sala de jantar de volta à cozinha, onde eu fiquei sem dúvida mais confuso do que jamais estive. A porta do "porão" estava realmente lá, mas não levava ao porão. Era uma despensa. Estava forrado com prateleiras de alimentos enlatados e em caixas, tudo perfeitamente visível à luz da lua que entrava pelas janelas.

Sem escadas, sem escuridão esmagadora.

Saí e me reuni novamente com os outros policiais. O parceiro da policial que passou pela casa comigo perguntou o que diabos aconteceu, e eu respondi que, com toda a honestidade, não tinha muita certeza. Fui checar a policial, mas ela apenas se sentou no passageiro da viatura sussurrando para si mesma várias vezes.

“Não deveria estar lá. Não deveria vê-lo. Não deveria estar lá. Não deveria vê-lo.”

Me disseram que eles voltaram ao posto depois daquela ligação, onde ela prontamente se demitiu.

Não tenho ideia do que aconteceu naquela noite e tinha mais perguntas do que quando cheguei lá. Não sei quem ligou. Não sei onde Robin estava quando o piso superior foi verificado, não uma, mas duas vezes. Não sei como a policial desceu as escadas para um porão em uma casa onde não existe um porão. Não sei se apenas não tinha visto a porta na minha primeira caminhada pela casa. Nada disso faz sentido.

Perdi muitos sonos pensando naquela noite. Por isso, achei que esse seria um local apropriado para publicá-la.




Tradução própria. Título original: "As A Cop, This Is The One Case I Can't Explain".

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